Arrependimento

10-08-2022

Nunca percebi muito bem a frase "só me arrependo do que não fiz". Faz-vos sentido? Não sei. Ou quando dizem: "se pudesse voltar atrás, não mudava nada". Não sei. Por um lado, entendo, mas. 

Mas, sinto que será mais a nossa dificuldade em tolerar as nossas falhas do que em aceitá-las, de verdade. Sinto que será mais a nossa vontade de nos apaziguarmos diante do erro (que não assumimos, de facto, porque magoa) do que o desejo, sincero, de acreditarmos que não nos arrependemos de nada. Já pensaram quão pouco tolerantes tendemos a ser? Connosco? E quanto nos enredamos em interpretações demasiado simplistas da complexidade que é a nossa vida?

Por vezes, chegamos a um "estrada" que não nos apercebemos que estávamos a caminhar. A rapidez dos dias nem sempre nos permite escutar o que sentimos. O que queremos. Ou, então, é precisamente a rapidez dos dias que perseguimos para...não termos de pensar...no que estamos a sentir. Já vos aconteceu? Não concordam que o arrependimento nos poderá tornar melhores pessoas? (Desde que não persistamos viver na culpabilização, constante, dos nossos erros, claro! se assim fizermos, não mais caminharemos. estagnamos!).

Arrependermo-nos das nossas escolhas não nos torna infelizes. Amargurados ou fracos. Torna-nos conscientes. Atentos. Humanos. Frágeis. Vulneráveis. Mas, profundamente, humanos. 

Dizem-nos tantas vezes que não faz mal errar. Engraçado. Então, se assim é, por que razão magoa tanto assumirmos o erro de um determinado caminho? Seremos menos por sermos mais erro? Acho, genuinamente, que não. 

Há um excerto de uma canção da Adele que diz: 


                      "(...) To be loved and love at the highest count

                        Means to lose all the things I can t live without

                        Let it be known that I will choose to lose

                        Its a sacrifice, but I can t live a lie

                        Let it be known, let it be known that I tried (...)


E eu achei-a tão bonita que decidi partilhar convosco. O arrependimento não poderia ser algo, igualmente, belo se nos fizesse tornar melhores pessoas? Concordam? Eu acho que tornaria. Se o entendêssemos como um olhar para dentro de nós. Aceitar a falha. Perspetivar como poderemos ser melhores. E, como diz a canção, seguirmos com a convicção que tentámos. Saibam que tentámos!

Saibam que tentámos. Saibam que não faz mal arrependermo-nos.

Aprendamos com o nossos erros. Decisões. Assumamo-los. 

Um dia chegou-me uma história bonita. Quer dizer, uma pessoa. Não é a mesma coisa? 

Em conversa, falávamos sobre a possibilidade de podermos ter um livro do nosso futuro. Onde saberíamos tudo o que nos iria acontecer, a partir daí. Imagino que, para alguns de vós, pudesse ser aliciante esta ideia. Mas seria mesmo? Não gostaria de saber o meu futuro. Prefiro a incerteza. O improvável. O imprevisível. Prefiro caminhar por trilhos que desconheço. Encontrar histórias por aí. Pessoas. Não será preferível assumirmos decisões erradas? Decisões felizes? Não será preferível arrependermo-nos, por vezes, do que fizemos? Não significará, isso, que vivemos? Vivamos com a dignidade de sermos humanos. Com a dignidade de, olhando para trás, aprendermos como, a partir daí, podemos passar a caminhar. Em direção ao futuro. Bonito. 

Saibam que tentámos

Ana Carolina Pereira

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