Pessoas como nós
Andrii e Valeriia Karpylenko. Casaram, sensivelmente, no início deste mês. Numa fábrica. Três dias depois, morreu. Ele. Ela? Continua a combater. Li no Observador: "Ela promete salvar-se e viver por ele".
Lembrei-me deles. Agora.
Em 2020, em cada cem casamentos, registou-se uma percentagem de 91.5% de divórcios (Pordata). Em Portugal. Para além dos "porquês" (pertence a cada um), o que, verdadeiramente, será interessante, na leitura destes números, são as pessoas. E o caminho!
Lembrei-me deles. Agora.
Escuto, algumas vezes, frases como: "não me separo por causa dos meus filhos"; "prefiro esperar que cresçam para, depois, poder pensar em mim". Deveria ser assim?
Escuto, algumas vezes "nunca serei capaz de mudar"; "prefiro estar como estou...pelo menos, já sei com que posso contar". Será?
Escuto, algumas vezes, "desamores". E o modo como nos habituamos a ele. Ao "desamor".
Escuto, algumas vezes, o adiar. E a permanência. Naquilo que não queremos. Por mais que nos esforcemos para querer.
Pessoas como nós.
A separação. As pessoas separam-se por diversos motivos. Mas, talvez o principal, será nunca desistirem de poderem caminhar em direção a... Poderia dizer, em direção a serem mais felizes. Mas prefiro dizer em direção ao amor.
A separação magoa. Muito. Sentimo-nos metade. Do que imaginámos que iríamos ser. Perdemos. E perdemo-nos. A separação torna o tempo difuso. Finta os projetos que tínhamos, a dois. E que deixámos de ter. Os dois.
A separação obriga-nos. A ir. A chorar. A porquês. A chorar. A zangarmo-nos. Connosco. Com o tempo. Esse estranho que joga "aos dados" com a nossa vida.
Mas,
A separação, apesar de tudo, pode fazer bem. Quando conseguimos aprender. E compreender os "ses" (de antes). Os dois. Quando passamos a acrescentar-nos. A nós. Assim consigamos tornarmo-nos, todos os dias, melhores. Pessoas.
A separação, apesar de tudo, pode fazer bem. Aos dois. Porque, de alguma forma, não adiamos. Não adiamos mais. O amor.
Não são os filhos. Não é o trabalho. (as razões que damos! ou que precisamos dar para não olharmos para nós. Magoa!). Vocês sabem isso. E eu também. Somos nós. E o medo. Medo de "rasgarmos" o desamor. E a dúvida. E o medo. E a habituação ao desamor. E é tão fácil chegarmos até aqui!
Pessoas como nós.
A separação obriga-nos a ir. E a nunca se desistir. Do que se foi. E, mais ainda, do que seremos. Em direção ao amor. Seja em que idade for!
Pessoas como nós.
Ana Carolina Pereira