É injusto!

Os legos. E as palavras. 

Uns e outros, podem desmontar-se. Acho que será esse o encanto de todos nós. A desconstrução. Quando o permitimos.

Os pais. E os filhos.  

A história dos pais. E a história dos filhos. E o modo como, ambas - as histórias - se podem entrelaçar. E baralhar. E, por vezes, confundir. E....subtrair. Uns aos outros!

"não me ouvem...tento falar como me sinto, mas estão sempre a dizer que eu tenho tudo e que sou injusto. Que tenho tudo e que não tenho razão para me queixar". Dizia-me alguém. Quer dizer, um jovem. Quer dizer, o João. Quer dizer, todos os que... 

Esquecemo-nos, por vezes, que os pais...são pessoas. E que,  no desejo dos seus filhos serem o seu melhor projeto, esquecem-se, por vezes, que os filhos também são...veja-se, pessoas. Com eles. Mas para além deles. 

Acho um bocadinho injusto quando os pais não escutam os "filhos pessoas" à boleia de um "damos-te tudo. É injusto. Não tens razão para te sentires assim. Nós fazemos tudo por ti e tu não valorizas". 

Porque, sem querer, é como se estivessem, na vontade de tanto lhes quererem bem, a dizer que, como pais, não estão a falhar em nada. (sabem quando estamos tão aflitos que nos defendemos a "atacar"?).

Vamos brincar aos legos? Às palavras? Acho que os pais, quando o dizem, quereriam ter dito: - "Mas onde é que eu estou a falhar para tu estares a sentir-se mal?" Se desconstruíssemos, ainda mais, quereriam ter dito: "filho, diz-me, achas que estou a  ser mau pai/mãe para ti?". Querem mais? "Tenho medo de não ser a mãe/pai tão importante para ti como sempre sonhei".  Querem mais? É melhor ficarmos por aqui!

Os pais serão, quando tudo corre bem, o Bem mais inestimável na vida de um filho. Mas, por vezes, ficam tão presos ao medo de poderem estar a falhar, enquanto pais, que acabam, sem querer, por centrar-se mais em si mesmos (e na sua história) e fazerem "birras" e "refilarem" quando se sentem questionados.

Mas não é isso que eles, os filhos, querem. Só querem que alguém tão importante para eles escute os seus desabafos. Não temos de concordar com os mais novos. Mas devemos escutá-los. Para, depois, darmos a nossa opinião. E ajudá-los a pensar. Com a nossa ajuda. Mas por si mesmos. 

O melhor, penso, da parentalidade, não será tornarmos os mais novos "fotocópia" do que achamos que eles devem ser. Mas ajudá-los a existir. Como pessoas. Pode parecer fácil, mas será o projeto mais ambicioso e belo do ser humano:  existir, de modo pleno, perto de alguém. Porque, quando se ama alguém, não se cobra. Partilha-se. Podemos acrescentar contraditório. Dar a nossa opinião. Mas, sempre, a tentarmos comunicar. Sem cobrarmos. Porque, quando o fazemos, só existe o medo da falha. E, o medo da falha, será, talvez, o lego mais comercializado e vendido no mercado!

Ana Carolina Pereira