Olá bebé! Tchau bebé!

Estava, um dia destes, a conversar com uma das minhas pessoas. Que tem uma outra das minhas pessoas ao seu colo. Nas palavras que trocávamos, estava a mãe espantada com mais uma conquista da sua bebé. Dizia-me: - ainda não te disse? É uma delícia! Agora, quando chegamos no elevador, ela diz “olá bebé”. E, quando sai, diz “tchau bebé”!. Fiquei a pensar nisto. Na bebé a espantar-se com o reconhecimento, progressivo, de si…, também, no espelho. Como se, naquele instante, fossem duas pessoas que não se conhecem e que passam a cumprimentar-se e a conhecer-se, cada vez mais e mais. Até ao momento em que se tornam melhores amigos e a perceber que serão, no fundo, a dupla face da mesma moeda. Não era tanto dos mais pequenos que eu queria falar. Ainda que parta deles. Mas de nós, os mais crescidos. E, a bem dizer, não sei (ou sei?) muito bem o que, no fundo, queria dizer quando me demorei a pensar no bebé e no espelho, porque, tal como ao espelho, acontece, por vezes, observarmos algo que não sabemos. Ou, nalguns casos, algo que não reconhecemos. Qual de nós somos nós? Nós ou a nossa imagem refletida? Vamos complicar mais. Qual de nós somos nós? Nós, a nossa imagem refletida ou a imagem refletida que achamos que devemos ser porque os outros nos dizem para ser (mesmo que não o digam, diretamente)? Mais ainda. Qual de nós somos nós? Nós, a nossa imagem refletida, a imagem refletida que achamos que devemos ser porque os outros nos dizem para ser ou a imagem que idealizamos ter de ser porque, achamos, que os outros nos disseram que teríamos de ser? Por fim. Qual de nós somos nós? A imagem que se duplica, no espelho? Ou a imagem que nós vemos, na verdade, no espelho. Parece a mesma frase, mas não é. Voltem atrás e leiam melhor. Para a despedida: qual de nós se acarinha e espanta quando nos vemos (sublinho o vemos!) como acontece ao bebé quando descobre que ele, e a imagem dele, serão a mesma pessoa (por mais que, ao longo da sua vida, possa correr o risco de lhe dizerem que não o é)? Qual de nós, ao se ver, se espanta num “olá”?