9 anos. Quando a conheci. Explicava-me - enquanto se fazia acompanhar de lágrimas que, timidamente, se foram apresentando - que não conseguia ler tão bem como os seus colegas. O que a deixava triste. Muito triste. Não entendia a razão de, por um lado, saber que sabia as matérias quando as ouvia da sua professora e delas falava, oralmente, mas, por outro, sentir que as palavras pareciam escorregar umas nas outras enquanto as tentava ler, como se ganhassem vida própria e, de tão confusas, mais se assemelhassem a uma qualquer hora de ponta no trânsito quando, para além do mais, está um tempo nebulado, com chuva e humidade. Quase como hoje. Estão a imaginar? A Ana falava-me das suas dificuldades como se fossem irreversíveis e como se o seu destino, e sucesso futuro, estivesse comprometido. Não estará. De todo. Assim nós saibamos escutar os sinais. E intervir. Para se esbaterem as assimetrias que se possam sentir numa sala de aula. Notem: os sinais de potenciais perturbações específicas de aprendizagem vão-se fazendo sentir, devagarinho. E, acreditem, podemos tentar escutá-los nas fases mais precoces do desenvolvimento. Urge escutar e intervir. Para que todas “as Anas” possam perceber que, mais do que um qualquer “defeito”, terão, apenas, especificidades neurobiológicas que apelam a um trabalho contínuo. E a uma intervenção adequada. “- Ana, sabias que Charles Darwin era disléxico?”. Não sabia quem era. Disse-lhe, apenas, que, entre outras coisas, era biólogo, um viajante e um cientista. Sorriu. Talvez com a ideia de que, afinal, as palavras não a deixarão “estacionada”, para sempre, em horas de ponta!