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A cultura. A educação. E um povo!

Tenho acompanhado, de perto, pelas notícias que circulam. Pelas manifestações sociais que se vão multiplicando. A precariedade para que foram, ainda mais, empurrados muitos sectores de atividade. Tenho acompanhado, de perto, pelos exemplos que, alguns de nós, vamos tendo. Junto dos nossos. Nas micro, pequenas e médias empresas. Na restauração. Nas atividades culturais. Etc.
Agora, a cultura. A educação.
Vemos placas, içadas no ar, pelas mãos de quem grita “A cultura é segura”. E é. E deveria ser. Não hoje. Mas sempre. Ouvimos barulho. Dos que desesperam. A cultura não é elitista. Não é de nichos. Não é para “intelectuais”. A cultura é para todos. E de todos. E é essencial. A cultura é educação. A educação é cultura. A cultura é um povo. A cultura é viajar, num balão de ar quente, e ver o mundo de um modo diferente. Sob outro ângulo.

Pausa: sabiam que, neste momento, a UNICEF (2020) estima que cerca de 150 milhões de crianças passem a viver em pobreza multidimensional (sem acesso, por exemplo, à educação, saúde, habitação, saneamento ou água, nutrição, etc.) caso persistam as interrupções graves nos serviços de saúde e o acesso restrito à educação na sequência da covid-19?

Continuando. A cultura, a educação, é o poder mais poderoso (o pleonasmo é propositado) que um povo tem. A cultura e a educação levam-nos à ciência. À inovação. À tecnologia. Ao respeito. À humanidade. Aos valores. À tolerância. À diferença. A cultura e a educação deviam ser consideradas os mais elevados valores de um povo. Pensem comigo, acho que não estarei a exagerar: não acham que, com educação e cultura, podemos ir até onde os nossos sonhos nos levarem? Vá, não sejam tão duros comigo: eu sei que precisamos de “pão para viver”. E é por isso que vos digo. E repito (só uma opinião, claro): a educação e a cultura são o “pão” que o povo precisa. Para viver. Porque, sem isso, seremos um nada. Sem identidade. Seremos um povo com fome. E sem personalidade. Somente um conjunto de robôs “esfomeados” programados para cumprir ordens (e, daí, o crescimento de ideologias, potencialmente, mais extremistas, em todo o mundo…). Para atingir metas. Sem direito ao recreio. O recreio que fará de nós, fundamentalmente, Pessoas.

A todos os profissionais que acarinham a educação. A cultura. Não importa em que área for [a cultura não tem sede própria, acho eu! A cultura e a educação também se veem nas feiras de artesanato ou num prato típico de um restaurante local. Ou no tricotar. Ou nos poemas. Ou nos palcos. Sejam eles quais forem]. Dizia eu, a todos os que acarinham a educação e promovem a cultura, o meu abraço. E que o grito que se ouve mobilize o Estado. Seja ele qual for. A acarinhar e a proteger a educação e cultura do nosso povo. Porque, sem isso, tenho receio, reste, apenas, a tristeza! O 1% do orçamento! E a fome! Não só essa fome. Mas também a fome! De recreios!  

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Para que servem os quadros de honra? De excelência? De valor?

Já não estávamos juntos há muito tempo. Mas parecia não ter passado assim tanto tempo. São, assim, os amigos! A conversa alongou-se para além das horas. São, assim, os amigos! Não perdemos tempo a cobrar o tempo. Mas a estarmos. Uns com os outros. Não sei como lá fomos parar. Mas fomos. 

Os quadros de mérito. Quadros de honra. de excelência. Sejam quais forem as designações que se entendam considerar. 

Há já algum tempo que queria escrever sobre isto. Mas acabava sempre por adiar. 

Pois bem, (não se vão embora, fiquem aí, por mais que se vá seguir uma parte do Despacho...). 

Por Despacho  Normativo nº102/90 publicado em Diário da República n.º 211/1990, Série I de 1990-09-12, escreve-se, entre outras alíneas, o seguinte: "A Lei de Bases do Sistema Educativo pretende garantir o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade do indivíduo e criar condições de promoção do sucesso escolar e educativo, valorizando a dimensão humana do trabalho escolar. (...)". Concordo, se me permitem!

"(...) Assim, considerando que, no âmbito da reforma educativa, compete à escola, enquanto espaço de vivência democrática e agente dinamizador de inovação social e cultural, prosseguir eficazmente aqueles objectivos, reconhecendo sistematicamente os alunos que se distinguem pelo seu valor, demonstrado na superação de dificuldades ou no serviço aos outros e pela excelência do seu trabalho Considerando, também, que alguns alunos se distinguem na escola e merecem ser reconhecidos a nível regional e até nacional; (...)".

Mais se diz..."(...) Considerando, ainda, que as actividades do sistema pedagógico-didáctico muito se enriquecem se for criado e introduzido um mecanismo adequado de promoção escolar que não só estimule o aluno para a realização do trabalho escolar, individual ou colectivo, como também lhe reconheça, valorize e premeie as aptidões e atitudes reveladas ao nível cultural, pessoal e social". 

Pelo que se determinou, por exemplo, no ponto 1: "São criados os quadros de valor e de excelência a nível da escola, a nível regional e a nível nacional para os alunos das escolas do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e para os alunos das escolas do ensino secundário, públicas, particulares ou cooperativas. [...]", salvaguardando-se a autonomia das escolas para a sua aplicação. 

Ora,

Não colocando em questão a justeza e boa intenção da lei promulgada (tenho, para mim, a confiança em quem pensa a educação e o sistema de ensino com seriedade e profissionalismo, por mais que!), não posso, ainda assim, deixar de colocar algumas reservas das suas implicações, na prática. 

Por exemplo,

Já estive com crianças/adolescentes que foram contempladas, pelo seu mérito, no Quadro de Honra da sua escola. E que viviam com o receio de, no ano seguinte, porventura, não conseguirem manter...o ranking! A sua média! 

Já estive com crianças/adolescentes que estavam perto de entrarem, finalmente, para o Quadro de Honra. Mas que viviam no receio de não o conseguirem, por mais que se tivessem esforçado. E muito! 

Quando vivemos em função da validaçãomais do que da curiosidade em aprender, acabamos por "escorregar", mais vezes do que imaginamos. Porque, no essencial, sermos inteligentes significa que pensamos com o corpo todo. E, por vezes, o nosso corpo está em "sobressalto". Demasiado preocupado em corresponder. Em procurar validação. E, quando isso acontece, a nossa disponibilidade para aprender, por mais esforço que façamos, fica reduzida. Porque pensar implica não esquecer que seremos tão mais inteligentes quanto mais sentirmos. Ainda acreditam que possamos continuar a "separar" racionalidade de sentimentos? Acham mesmo? (não sou eu que o digo, mas os Mestres).   

Já estive com crianças/adolescentes para quem o quadro de honra nem era uma questão! Estavam mais preocupadas em aprender. Em brincar. Dentro e fora das aulas. Mesmo que fossem incluídas, pelo seu mérito, nos tais Quadros de Honra. Mas, para elas, nem era assim tão importante. Que bom!

Já estive com crianças/adolescentes que se consideravam "menores" porque havia o "eles" (os "excelentes") e o "nós" (os "medianos"). 

Já estive com crianças/adolescentes que tinham resultados escolares médios/médios inferiores, mas que, em compensação, eram considerados os "bonzinhos" pelas ações que haviam desenvolvido, em termos sociais. E diziam: "Não sou muito inteligente, mas ajudo!!!". Será que é isto que pretendemos? 

Já estive com adolescentes que me disseram: "é engraçado. Passei o tempo a querer estar no Quadro de Honra e, depois que consegui, não senti tanta felicidade como imaginava. Só pensava. Será que vou conseguir, para o ano?". 

Já estive com...

E então? Perguntarão vocês. 

Se calhar já ouço alguns de vós a dizerem: "mas as crianças devem ver reconhecido o seu mérito" (verdade, mas desta forma, pergunto eu?); "o mundo é assim...a lei do mais forte"; "as pessoas devem ser recompensadas pelo seu trabalho...assim aprendem que o mundo não é fácil, lá fora"; "estão sempre a proteger-se as crianças. elas precisam de aprender o que custa a vida desde pequenas e a lutar pelo que pretendem", etc., etc. 

Que fique bem claro: acho essencial que consigamos competir para seremos melhores. Hoje e amanhã. Que nos esforcemos. Que trabalhemos. Que consigamos falhar e falhar e esforçarmo-nos e esforçarmo-nos e conseguirmos (o «e» tantas vezes é propositado!).

Mas, na verdade, o que lhes estaremos a ensinar? Que há crianças/jovens de primeira e de segunda? Que há o palco para quem consegue e os bastidores para quem lá não chega? Que seremos tão mais inteligentes quanto melhores notas tivermos? (mais uma vez: tirar bons resultados dá-nos uma sensação de prazer e realização pessoal. Não é contra isso que estamos a falar. Mas contra uma perspetiva, talvez, demasiado mecanicista deles. Da aprendizagem e desenvolvimento dos mais novos).  

Eu sei que me vou alongar, mas vou continuar a escrever (quem quiser, continue comigo!)

A escola/aprendizagem deve ser inclusiva. Não segregacionista. Deve potenciar o melhor de cada um. A  escola deve premiar o processo. A curiosidade. As perguntas (tantas crianças que me dizem que têm vergonha de colocar perguntas porque acham que "ter dúvidas" as menoriza diante dos outros!). Deve premiar as ideias. Os projetos. As competências sociais. O brincar. O explorar. A cooperação. Deve premiar o ritmo de cada um. E, respeitando que haverá diferentes "velocidades de crescimento", não deve deixar "ninguém para trás". E, eu sei, as escolas farão o seu melhor, não tenho dúvida (tenho um respeito profundo pelas escolas e professores. cresci numa escola. junto de professores. literalmente. quer dizer. bem, não é importante. Mas,

E para acabar...(para quem, ainda, tiver aguentado!!!)

Deixem-me que partilhe uma entrevista do Professor Doutor Sobrinho Simões, por quem tenho profunda admiração (será que algum dia saberá desta minha admiração?), na qual disse, quando questionado, que o melhor legado que deixava eram as suas gentes, claro, e a "escola" que havia feito com os seus alunos. A partilha de saber. A curiosidade por aprender. E ensinar. 

Disse, ainda, em entrevista à rtp, que era essencial, para sermos "gente", que tivéssemos capacidade de compromisso (uns para com os outros) e nunca nos esquecêssemos que precisamos dos outros para sermos melhores. Foi profundamente comovente, para mim, o modo simples e tão profundo das suas palavras. Disse muito mais. Mas, 
Voltando à escola. Estaremos nós a ajudar os mais novos a serem mais competitivos? Ou a colocá-los diante da iminência do "terror" da falha?  Seja para os que estão no "pódio!!!". Seja para os que olham para eles, de baixo para cima. 

P.S. temos de trabalhar para conseguirmos alcançar o que sonhamos. Verdade. Não é isso que tentamos fazer, cada um de nós, todos os dias, no nosso local de trabalho? Junto dos nossos?

Mas, digam-me se concordam: não devemos promover o que de melhor a civilização tem? Ou seja, a capacidade de podermos ser "gente" uns para com os outros!

Fim. Desculpem-me!!!

Mas a simplicidade e a síntese são tão difíceis de conquistar. Mas,
Se continuar a trabalhar. A esforçar-me. A competir. E, sobretudo, a não me esquecer de ser "gente"!  

Talvez lá chegue! 

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A perda de um filho

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, ocorreram um total de 163 mortes neonatais, no período de 2019, em Portugal, em função de diversas causas (desde perturbações relacionadas com a duração da gravidez e com o crescimento fetal; hipoxias intrauterinas; infeções respiratórias do recém-nascido; complicações decorrentes do trabalho de parto, etc.).  Quantos são os fetos que nascem sem vida ou os bebés que morrem na primeira semana de vida por cada 1.000 nascimentos com ou sem vida? À resposta a esta questão, a PORDATA refere que, em 2020, houve uma percentagem de 3.3% casos de mortalidade perinatal e, por cada 1000 nascimentos, uma percentagem de 1.7% casos de bebés que morrem durante o primeiro mês de vida. 

Nota: Segundo a Organização Mundial da Saúde, o período perinatal refere-se ao período que decorre entre as 22 semanas completas (154 dias) de gestação e termina após os sete dias completos pós-nascimento. Já o período neonatal começa aquando do nascimento e termina após 28 dias completos após o nascimento.

Vamos falar, agora, no que podemos encontrar para além dos números. 

Vamos falar dos pais que perdem o filho. Seja durante o período perinatal ou neonatal. Fico, por agora, só por aqui. Mas, acho (não sei!), que voltarei a este tema. Para escrever (apenas, escrever... ou, talvez, tentar escrever) sobre os pais que perdem os seus filhos (sem considerar, em exclusivo, o período a que me proponho refletir aqui). Haverá experiência mais "enlouquecedora", em termos de dor, do que a perda de um filho?

Quando se perde um filho, não se perde "só um filho". Perdemos os pais que (nos) fomos imaginando para eles. Perdemos os filhos que iríamos descobrir ao longo do seu crescimento. Perdemos os sonhos que desenhámos enquanto os sentíamos crescer, dentro de nós (seja num plano biológico, para a mãe, seja num plano mental, emocional e simbólico, em ambos os pais).  Quando perdemos um filho, não perdemos só um filho! "Morre", irremediavelmente, um bocadinho de cada mãe/pai. Com eles. Perdemo-nos. 

Quando se perde um filho, seja durante a o período perinatal seja no período neonatal (uma perda será, sempre, uma perda), por vezes é difícil, para os que rodeiam os pais e que gostam deles, perceberem que se encontram num verdadeiro processo de luto. Mesmo quando nos encontramos perante perdas espontâneos em semanas precoces da gestação. Magoa sempre. Não vale a pena "medirmos" dores, pois não? Cada um terá o seu modo de a sentir e de elaborar. 

Por vezes, e sem querer, dizem: os abortos (quando estes ocorrem) são mais frequentes do que imaginamos (é verdade, mas!); que, diante de uma perda de um bebé (já em semanas avançadas da gestação) "são jovens" e haverão de ter mais oportunidades de terem filhos (é verdade, mas!); que (no caso de terem) terão sorte por já terem filhos (é verdade, mas!); que não conseguirão criar muitas memórias com os bebés (será? e todas as que idealizaram e que nunca terão? O que farão a todas essas memórias?) e que, talvez por isso, seja um bocadinho mais "fácil" superar (aqui discordo, mas!); que o tempo vai ajudar (será que é só o tempo?). Bem sei que dizemos estas frases com a melhor das intenções e que, naturalmente, serão proporcionais à nossa dificuldade de nos imaginarmos a passar pelo mesmo (por mais empatia que tenhamos). Ainda há pouco tempo (e já tenho escrito sobre isso) dizia a alguém que, muitas vezes, os Outros passamos a ser nós mesmos. E lá caímos no lugar comum..."não acontece só aos outros"! 

Quando se perde um filho, perde-se, para sempre, esse filho. Perde-se a possibilidade de o ver crescer. Perde-se a possibilidade de crescerem com ele. Perde-se a possibilidade de o imaginarem (para além do que imaginaram). Perde-se. Perdem-se. Perde-se. E sentem vergonha. Vergonha, no caso das mães, de não terem sido uma "casa uterina" segura para o proteger. Vergonha por se sentirem menores. Incapazes. Sentem-se, por vezes, "uma vergonha". Custa-lhes olhar para os outros. Culpa. Culpa. O que poderia ter feito para. O que fiz para. Vergonha. Vergonha. Culpa. Dificuldade em conseguirem olhar para o espelho e verem, nesse duplo que serão, a tristeza profunda em que se sentem. Pai e mãe. Têm medo. De não conseguirem amar de novo (em todas as facetas das suas vidas). E, nos casos em que assim acontece, ainda têm o outro filho. Que salva (é verdade. mas que não pode ter e/ou sentir ter essa "missão"). E lhes lembra, tantas vezes, que, também ele, perdeu o irmão. Sentem raiva. Acham, os pais, que nunca mais irão rir.  Porque se correm o risco de rir, choram de mágoa por ousarem sentir  qualquer resquício de alegria. De felicidade. É paradoxal com a dormência em que se sentem. 

Dizem que o tempo ajudará. Tenho pensado muito nisto. E acho que não ajuda. Não é só o tempo. Que nos vale o tempo se não tivermos relações que nos salvem? Que nos acarinhem e nos façam "reabilitar" nesse tempo que dói? Acho, genuinamente, que só conseguimos encontrar um sentido para a dor quando sentimos que temos com quem sentir essa mesma dor. Caso contrário, o tempo tornar-se-ia enlouquecedor para qualquer um de nós. Nunca, mas nunca, conseguiremos encontrar as palavras certas para podermos aconchegar um pai/mãe em luto. Porque, quando falamos em morte gestacional ou neonatal, é disso que se trata. De um luto. E não podemos subvalorizar. Perder um filho pequenino, com prematuridade severa, por exemplo  (que nasce a lutar pela vida, quando nasce a lutar....) magoa muito. Causa ferida. Produz cicatrizes profundas. E interpela a que, um dia, possamos encontrar um sentido para essa mesma dor. Um caminho. Que se faz a diferentes velocidades. Que se faz de diferentes modos. Que não passa só com o tempo. Que nunca passará. Por mais que consigamos encontrar o nosso caminho! E havemos de o encontrar! Assim tenhamos os nossos perto de nós!

Quando se perde um bebé, morre-se, sempre, um bocadinho (acredito que, mesmo quando a perda ocorre nas primeiras semanas de gestação, o mesmo acontece - ainda que com diferentes configurações na forma como o elaboramos. Seja como for, imaginem as famílias que se deparam com múltiplos abortos espontâneos. Terão dúvida acerca do verdadeiro processo de luto que isso implica?). 

E, para lá do Tempo, serão as pessoas - que envolvem os pais e que lhes devolvem uma imagem mais bonita de si mesmos, quando se (voltam) a olhar ao espelho - que os salvarão.  Não precisam de palavras certas. Mas, apenas, de sentirem que estamos próximos deles. Respeitando o ritmo do seu luto. Não apressando os ponteiros do relógio para ficarem bem...rapidamente. 

Estes bebés (nascendo, ou não, com vida) não são, como me dizia uma mãe, "fantasmas". Eles foram sonhados. Pelos seus pais. Portanto, existiram. Nasceram. E, quando se nasce para partir, dói muito. Porque partiram eles. E uma parte deles mesmos. A outra parte de si (pai/mãe) que fica? Vai (re)aprendendo a viver. E a encontrar um sentido (sem porquês) para poderem viver. Sem eles. E, talvez, quem sabe, um dia, essa mesma lembrança (dos filhos que perdem) seja uma memória doída à qual voltam (por vezes). Sem lágrimas. E com lágrimas. Mas com o coração sempre pronto para os amar. Amar a ideia de os amar. Porque os não têm. Ainda que tenham. Não se esqueçam que os sonharam durante muito tempo, antes de partirem. Acho que os pais nunca os deixarão ir. E que terão medo de, algum dia, se poderem esquecer das feições deles (nos casos em que tiveram a possibilidade de se despedirem, fisicamente, dos seus bebés). Os filhos nunca morrem. Por mais que morram. Eles serão dos seus pais. De quem os sonhou. Para sempre.

Ana Carolina Pereira