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A “ditadura” da média…ao crescer-se!

Está dentro dos valores médios. Que alívio, pensaremos nós! Diante de um exame médico. Já não será com tanta satisfação que legendamos o “estar na média” quando participamos nalguma competição desportiva. Ou, porventura, quando nos candidatamos a um emprego. Aí, queremos destacar-nos. Estar…acima da média. Já no que respeita às relações, imagino que não queremos “estar na média”. Mas sermos absolutamente especiais para alguém. E esse alguém acima da média para nós. Concordam?

Bem, e a “ditadura” ao crescer-se? Não raras vezes, imagino os pais num burburinho ansioso (que chega a doer) de cada vez que, em silêncio, observam os seus filhos percebendo se “estão na média”, quando o levam à escola, por exemplo. Média no andar, no falar, no tagarelar, no sono, na alimentação, no desfralde, no brincar, e, e, e, e…. E, sendo, seguramente, essas comparações, vividas no coração silencioso dos pais, naturalmente, expetáveis e, talvez, até saudáveis, já não o serão, assim tão fáceis de legendar quando esse mesmo filho começa a andar mais tarde do que o amigo da escola; quando o filho ainda está um pouco aquém do esperado na aquisição da linguagem e a sua amiga já tagarela tanto e tanto; quando o filho ainda não brinca com os brinquedos que, supostamente, apelam ao raciocínio lógico e hipotético-dedutivo e todos os jargões mais técnicos que poderemos usar… se, na sala dele, os restantes colegas já são tão hábeis nessas “competências”; quando o filho ainda não aprendeu todas as letras e os restantes colegas já sabem a totalidade do abecedário; quando o filho chora mais frequentemente do que os restantes deixando os seus pais um pouco (muito) embaraçados, em público (a ponto de, nalgumas circunstâncias, evitarem, futuramente, programas sociais outdoor); quando o filho refila mais do que os demais, na escola, se os restantes o não fazem naquelas proporções…A “ditadura” da média começa bem cedo. Já repararam? Com início na gestação (ou será, antes, no nosso pensamento?) prolonga-se pelos portões dos infantários, nas festas de aniversário, nalgumas reuniões de pais, por exemplo (não fiquem zangados comigo: não estou a dizer que acontecem sempre, mas acontecem, por vezes, algumas vezes). Nesses momentos, essas mesmas comparações (reais ou imaginadas) são vividas em silêncio, pelos pais. Porque se questionam: será que estamos a fazer bem? Ouviram, de alguém (sem que a intenção original fosse o de magoar, ainda que magoe): “o teu filho ainda não anda? O meu começou logo a andar ainda nem falava!!!” E os exemplos multiplicam-se. E, nesse dia, aquele pai/mãe, inevitavelmente, passará a ficar mais alerta para o nível da marcha do seu filho. E ficam mais ansiosos. E a criança percebe. E, nesse dia, tropeça mais do que o habitual. E o alarme dispara: “se calhar têm razão…o meu filho pode estar com problemas a aprender a andar”. Agora, imagem estas interrogações, silenciosas, e o modo como a “ditadura” da média poderá estar presente no nosso dia-a-dia. Tantas e tantas vezes. E como poderá afetar o próprio ritmo de desenvolvimento e o processo de crescimento. Atenção! Devem estar a perguntar-se: mas “estar na média”, em termos de conquistas desenvolvimentais, será bom, certo? Claro que sim. Significa que estamos no bom caminho! A média serve para isso mesmo. Portanto, tem o valor de referência. Logo, será importante estarmos atentos às médias expetáveis de aquisição desenvolvimental de um bebé. De uma criança. E assim sucessivamente. Mas, extrapolar, constantemente, e com o rigor inerente à intolerância de uma ditadura, esses mesmos intervalos médios para o desenvolvimento de um bebé/criança será, seguramente, arriscado. Porque o crescimento nunca se faz numa linha reta e sem “desarrumação”. Porque um bebé, de tanto crescer, por exemplo, ao nível da marcha (com todas as configurações incríveis que se arquitetam em termos neuronais) poderá estar, por instantes, um pouco aquém ao nível da linguagem. E vice-versa. Não que esteja. Mas poderá parecer que está. Os bebés/crianças têm um ritmo próprio de crescimento. Que deverá ser respeitado. Já repararam como, por vezes, somos tão ansiosos que eles cresçam tão rápido? Será isso ou, no limite, a ânsia, enquanto pais, da certeza de estarmos a fazer tudo bem? Não sei.. Mas sei que todos passamos, numa ou noutra circunstância, num ou noutro momento, pela “ditadura” da média. O “somos humanos” pode caber aqui, como justificação, não pode? O importante é irmos desconstruindo essa mesma linguagem tirana quando a ouvimos. Vezes e vezes demais. Atenção: é importante termos balizas. Estarmos atentos. E, se sentirmos que algo nos inquieta, enquanto pais, junto de um filho, será essencial procurarmos apoio especializado que nos ajude a perceber algumas potenciais assimetrias no crescimento e que merecem um trabalho clínico minucioso. Mas, permitirmos que a “ditadura” da média se instale, com todas as consequências que daí poderão advir, poderá ser perigoso. Para eles, os mais pequenos. E para os pais. Há uma premissa que, para mim, faz cada vez mais sentido no trabalho com pais e crianças. Os pais têm uma “sabedoria” e intuição muito própria sobre o seu filho. Que deve ser escutada. Já tive situações em que partilharam: “Eu fui dizendo, mas não me ouviram…pensaram que estava a exagerar…”; “eu falei que não achava normal, mas diziam-me para esperar que o tempo ajudava”. Não se deve, nunca, desvalorizar a intuição de mãe/pai. Temos de a escutar e legendar, sobretudo. E é por isso que será tão injusto que vivam sob a tirania da média, com o receio que o seu filho possa ficar aquém de um mundo que cresce a diferentes velocidades do dele. Porque crescer-se nunca se fará como se tratasse de um quociente da divisão de uma soma pelo número de parcelas. É mais extraordinário do que isso. Faz-se por avanços e recuos. Necessários a quem cresce. Faz-se de pulos. De desalinhos. De reestruturações. De ritmos. Médios, também. Mas que não se reduzem a essa média. Podem acontecer antes da média. Ou após. Se a sua intuição de mãe, de pai, lhe diz que algo não estará bem, não hesite. Procure ajuda especializada. Se a sua intuição de mãe, de pai, lhe diz que está sob a “ditadura” da média, observe, escute e respeite o ritmo do seu filho. Partilhe os seus receios com quem os escuta para que possam ter traduções. Acredite que, de um dia para o outro, ele dará esse pulo no crescimento. Ou um recuo. Para, depois, voar. No ritmo de cada um!

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A profissão do meu pai!

Conheci um menino. Olhar bonito. 7 anos. Converso com ele. A dado momento, pergunta-me: 

- Tu queres mesmo saber?

-Queria, se concordares, respondi-lhe. 

- Acho que não vais gostar de saber.

- A sério? Porquê?

- Ele tem as mãos com marcas. Ele trabalha muito e vem com as mãos magoadas…

(…). 

Vou correr o risco de me sentirem moralista com o que vou escrever. Posso correr esse, e mais, riscos, claro! Mas não faz mal. Não nos julgamos todos, direta ou indiretamente, uns aos outros? Com as nossas supostas verdades sobre tudo e sobre nada? “Esta é a minha verdade”, dizemos tantas vezes. Como se houvesse verdades. E não, apenas, perspetivas. O nós e os outros. Os outros e o nós. Os outros e…. Bem, já estou a divagar para além do que me trouxe aqui... 

Voltando ao menino de olhar bonito…o desconforto com que falava da profissão do pai.. num misto de orgulho e embaraço por o seu pai, contrariamente a outros pais, aparecer em casa com as “mãos magoadas” de trabalhar num ofício…duro. Estamos a falar de um menino de 7 anos, com uma enorme sensibilidade, mas já um pouco “refém” de conceitos sociais estratificados com que vai crescendo ao observar…os outros. Quantos “outros” precisou ele para formar a ideia de que há profissões de primeira e segunda classe? Quantos “outros” precisou ele para imaginar que há profissões mais dignas do que outras? Quantos “outros” precisou ele (não se esqueçam...estamos a falar de um corpo de 7 anos) para crescer com a ideia de que as mãos magoadas do seu pai serão um sinal de que o seu pai exerce um ofício que não tem tanto valor e criatividade como o desempenhado pelos pais dos “outros” com quem ele convive? E nós? E nós? De quantos “outros” precisámos para considerarmos, por vezes, que há pessoas de primeira e segunda classe? De quantos “outros” precisámos para equacionarmos que uma pessoa que desempenha determinadas atividades (socialmente mais reconhecidas, claro – e o social é uma entidade construída por nós, não se esqueçam!) é mais elevada e merece uma maior distinção do que outra? Juro que este assunto me incomoda. Juro que me incomoda que este assunto seja, sequer, um assunto. Juro que me incomoda que não nos tenhamos reconhecimento nas diversas profissões que desempenhamos. Incomoda-me que o facto de uns terem prosseguido com os seus estudos mereça uma maior reverência por parte dos outros. Vocês conhecem todas as histórias de quem vos rodeia? Vocês sabem o percurso de vida daquela pessoa que, porventura, considerem menor pelo ofício que desempenha? Vocês já pensaram que a pessoa que vos está a atender pode precisar daquele emprego, que consideram “menor”, para poder “pagar as contas” ao final do mês? Mesmo que tenha estudado tanto e tanto para poder seguir o seu sonho…e, ainda, não tenha encontrado essa oportunidade? E não. Qualquer ofício não ganha mais relevância se essa mesma pessoa passar a ganhar mais dinheiro. O respeito pelo outro não é sinónimo do que ele ganha. Não pode ser. Nem sinónimo do carro que “veste”. Não deveria ser. Idealmente, todos nós ganharíamos bem. Idealmente, todos nós estaríamos bem. Não que esse ganhar tenha, necessariamente, de ser uniforme para e por todos nós. Mas, idealmente, ganharíamos melhor do que acontece, hoje, nalgumas profissões. Ainda assim, o respeito que o outro nos merece não se compadece com o seu extrato bancário. Não deveria acontecer dessa forma. Não sei…vou correr o risco de ser moralista. Mas não faz mal. Porque, juro-vos, o respeito que tu, e tu, e tu, me merecem nunca se balizará pelo que vocês vestem. Pelo que vocês exercem no vosso trabalho. Nunca. Disse ao menino que, se o pai dele não trabalhasse, eu viveria ao frio. O olhar dele agigantou-se de orgulho. Aquele orgulho que deveríamos ter quando desempenhamos o nosso trabalho com o respeito e brio que nos merece. E com criatividade. Criatividade? Pois... há tanto para falar sobre isto! Talvez num próximo texto!    

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Estará a criatividade reservada, apenas, a algumas pessoas? | Parte 1

Não. 

Por vezes, crescemos com a ideia que a criatividade será, assim, uma espécie de querubim acessível, apenas, a alguns. Ou, pelo contrário, olhamos com desconfiança para “os criativos” porque achamos que serão, assim, vá, um pouco «alternativos» e estranhos…porque pouco convencionais. Por vezes, ainda, crescemos com a ideia que ser criativo será ter, só, muitas…ideias. Que ser criativo será não falhar. Ter ideias e não errar. Que ser criativo é fácil porque não dará trabalho. Que ser criativo é ficar à espera do momento de inspiração!!! Já pensaram na quantidade de projetos/ideias que fomos tendo, ao longo da nossa vida, que nunca chegaram a ser projetos/ideias? Porque temos medo. Porque nos comparamos. Porque esperamos validação. Porque passamos a achar que o espanto que, em criança, tínhamos, por cada detalhe é um capricho e que a vida tem de ser vivida com realismo porque isto de se ser criativo não paga contas!!! Porque, tantas e tantas vezes, o risco de se criar e recriar é visto, ainda, como um perigo. Quando, na verdade, arriscar deveria ser essencial à vida. A criatividade não se vê, apenas, no desenho. Na dança. No teatro. Na literatura. Nos museus. Etc. Não está restrita, apenas, a cursos de artes. A criatividade é-nos natural quando não queremos ver o mundo como achamos que os outros nos dizem para ver. Ser criativo é ser livre. É ter/criar desafios. É confiança e abertura ao mundo. É tempo. Tempo para a inovação. Tempo amadurecermos ideias. Tempo para as debatermos com alguém. Tempo para criar novas ideias. Criatividade não é encontrar somente a solução de um problema. É, sobretudo, tempo para a descoberta dos problemas. Criatividade não implica criar um mundo novo. É arriscar ver o mundo como imaginamos que poderia ser. Seja em que área for. Quantas ideias já tiveste, e desististe, por medo? Quantas ideias já tiveste, e desististe, porque achas que tens de viver de acordo com os parâmetros que os outros definiram para ti? E que - acreditas - serem os únicos que te darão segurança? Quantas ideias já tiveste.. e acabaste por desistir? Estamos numa pandemia. E com medo. Estaremos, neste momento, na fila que aguarda que o semáforo passe para verde. Ou deveríamos estar a aproveitar enquanto, ainda, nos encontramos no semáforo vermelho para pensarmos…distraidamente. Para aguardar. Para ter tempo. Para, neste intervalo que é a vida, podermos descobrir problemas. Colocar outros tantos. Termos medo. Hesitarmos. Questionarmos. Redescobrirmos. Inovarmos. E, nunca, mas nunca, cedermos a um conformismo cómodo que incomoda. Sermos criativos é sentirmos. É emocionarmo-nos. É arriscarmos. E descobrir o prazer de cada vez que nos permitimos espantar com uma ideia. Mesmo em tempo de pandemia. Mesmo em tempo de tantos e tantos medos. Quantas ideias já tiveste, e desististe, por medo? Quantas ideias já tiveste, e desististe, porque te disseram que “não valia a pena”?

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Estará a criatividade reservada, apenas, a algumas pessoas? | Parte 2

O foleiro. E o fuleiro.

Estava, com um grupo de amigas, a visitar um museu. Combinámos, naquele dia. Classificado como Monumento Nacional e Património da Humanidade. Bem, como estava a dizer, estávamos a visitar esse museu quando, a certa altura, nos explicavam todo o processo da escrita e do papel na Idade Média. Desde o fabrico do pergaminho (obtido a partir do tratamento da pele de animal), às tintas e sua coloração e à pena que servia de suporte à escrita. Todo o processo de fabrico até à obtenção do pergaminho e da tinta obedecia a uma cadência temporal absolutamente inimaginável com a velocidade dos tempos de hoje. Parêntesis: não vos falo como se os tempos idos fossem melhores, porque o não eram, mas com a curiosidade do que se era capaz de criar quando escasseava tanta coisa. Bem, continuando. Daqui passámos para a visita ao órgão de tubos. Explicavam-nos que era uma criação alemã, do século…ups, não me lembro, mas acho que do século XV…. Não sei se vos acontece, mas perco-me sempre quando, na ânsia de tanto partilharem descrições, deixam de me contar histórias… Explicavam-nos, dizia eu, como havia sido criado aquele órgão de tubos (lindo, diga-se) e como funcionava, nas cerimónias religiosas, quando, a dada altura, me falam do “foleiro”. Fiquei, novamente, atenta. Ora bem: o foleiro seria o senhor que, sempre que necessário, acionava o fole, enchendo-o de ar, para o órgão tocar. E, só assim, o órgão ganhava musicalidade nas mãos de quem o tocava. Imaginem um senhor (por vezes, sacristãos ou escravos – !!! - contratados para esse efeito), na parte lateral de um órgão, em posições difíceis de se permanecer (provavelmente num local interno do órgão) durante muito tempo e com o ruído sonoro a que estava sujeito. A força que teria de fazer para bombear o fole que, por sua vez, permitiria que o som saísse!!!  

Devem estar a perguntar-se por que razão estou a falar de tudo isto. 

Caso, claro, ainda cá estejam! 

Para os que cá continuam, fui para casa com a história do pergaminho. Das tintas. Do órgão de tubos. Do foleiro. Do tempo que tinham para poderem criar e recriar acontecimentos que mudaram completamente as nossas vidas. Seja na escrita/leitura seja na criatividade musical que nos acompanha hoje. Tudo era feito com o respeito pela cadência de uma nova ideia. Partia-se da necessidade/problema e criava-se um novo problema/necessidade. Tudo obedecia a uma métrica compassada pelo dia e a noite. Pelo ponteiro dos segundos. Pelo entusiasmo de se criar o que não se conhecia. E, ainda assim, arriscar. E explorar. Estamos, hoje, bem mais perto de podermos comunicar por hologramas. Estamos, hoje, bem mais perto de podermos viajar, turisticamente, até outros planetas. Conheci, um dia, um menino, seis ou sete anos, que me dizia que iria estudar para criar uma máquina do tempo porque iria ganhar muito mais tempo com o pouco tempo que iria perder a deslocar-se. Eu acreditei nele. Porque ele não se conforma, apenas, com o mundo que lhe dizem que existe. Gostaria que o foleiro tivesse sabido, mesmo que talvez não lho tenham dito, que o modo como bombeava o fole foi essencial para a evolução musical. Porque se pode ser criativo até quando somos foleiros. Não quando somos “fuleiros” (como dizem os espanhóis, fullero, que significa trapaceiro). Porque, neste caso, somos fuleiros, apenas, quando boicotamos a nossa criatividade. E a liberdade de arriscar mundos que desconhecíamos. Até os vermos!

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A cultura. A educação. E um povo!

Tenho acompanhado, de perto, pelas notícias que circulam. Pelas manifestações sociais que se vão multiplicando. A precariedade para que foram, ainda mais, empurrados muitos sectores de atividade. Tenho acompanhado, de perto, pelos exemplos que, alguns de nós, vamos tendo. Junto dos nossos. Nas micro, pequenas e médias empresas. Na restauração. Nas atividades culturais. Etc.
Agora, a cultura. A educação.
Vemos placas, içadas no ar, pelas mãos de quem grita “A cultura é segura”. E é. E deveria ser. Não hoje. Mas sempre. Ouvimos barulho. Dos que desesperam. A cultura não é elitista. Não é de nichos. Não é para “intelectuais”. A cultura é para todos. E de todos. E é essencial. A cultura é educação. A educação é cultura. A cultura é um povo. A cultura é viajar, num balão de ar quente, e ver o mundo de um modo diferente. Sob outro ângulo.

Pausa: sabiam que, neste momento, a UNICEF (2020) estima que cerca de 150 milhões de crianças passem a viver em pobreza multidimensional (sem acesso, por exemplo, à educação, saúde, habitação, saneamento ou água, nutrição, etc.) caso persistam as interrupções graves nos serviços de saúde e o acesso restrito à educação na sequência da covid-19?

Continuando. A cultura, a educação, é o poder mais poderoso (o pleonasmo é propositado) que um povo tem. A cultura e a educação levam-nos à ciência. À inovação. À tecnologia. Ao respeito. À humanidade. Aos valores. À tolerância. À diferença. A cultura e a educação deviam ser consideradas os mais elevados valores de um povo. Pensem comigo, acho que não estarei a exagerar: não acham que, com educação e cultura, podemos ir até onde os nossos sonhos nos levarem? Vá, não sejam tão duros comigo: eu sei que precisamos de “pão para viver”. E é por isso que vos digo. E repito (só uma opinião, claro): a educação e a cultura são o “pão” que o povo precisa. Para viver. Porque, sem isso, seremos um nada. Sem identidade. Seremos um povo com fome. E sem personalidade. Somente um conjunto de robôs “esfomeados” programados para cumprir ordens (e, daí, o crescimento de ideologias, potencialmente, mais extremistas, em todo o mundo…). Para atingir metas. Sem direito ao recreio. O recreio que fará de nós, fundamentalmente, Pessoas.

A todos os profissionais que acarinham a educação. A cultura. Não importa em que área for [a cultura não tem sede própria, acho eu! A cultura e a educação também se veem nas feiras de artesanato ou num prato típico de um restaurante local. Ou no tricotar. Ou nos poemas. Ou nos palcos. Sejam eles quais forem]. Dizia eu, a todos os que acarinham a educação e promovem a cultura, o meu abraço. E que o grito que se ouve mobilize o Estado. Seja ele qual for. A acarinhar e a proteger a educação e cultura do nosso povo. Porque, sem isso, tenho receio, reste, apenas, a tristeza! O 1% do orçamento! E a fome! Não só essa fome. Mas também a fome! De recreios!  

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Olá bebé! Tchau bebé!

Estava, um dia destes, a conversar com uma das minhas pessoas. Que tem uma outra das minhas pessoas ao seu colo. Nas palavras que trocávamos, estava a mãe espantada com mais uma conquista da sua bebé. Dizia-me: - ainda não te disse? É uma delícia! Agora, quando chegamos no elevador, ela diz “olá bebé”. E, quando sai, diz “tchau bebé”!. Fiquei a pensar nisto. Na bebé a espantar-se com o reconhecimento, progressivo, de si…, também, no espelho. Como se, naquele instante, fossem duas pessoas que não se conhecem e que passam a cumprimentar-se e a conhecer-se, cada vez mais e mais. Até ao momento em que se tornam melhores amigos e a perceber que serão, no fundo, a dupla face da mesma moeda. Não era tanto dos mais pequenos que eu queria falar. Ainda que parta deles. Mas de nós, os mais crescidos. E, a bem dizer, não sei (ou sei?) muito bem o que, no fundo, queria dizer quando me demorei a pensar no bebé e no espelho, porque, tal como ao espelho, acontece, por vezes, observarmos algo que não sabemos. Ou, nalguns casos, algo que não reconhecemos. Qual de nós somos nós? Nós ou a nossa imagem refletida? Vamos complicar mais. Qual de nós somos nós? Nós, a nossa imagem refletida ou a imagem refletida que achamos que devemos ser porque os outros nos dizem para ser (mesmo que não o digam, diretamente)? Mais ainda. Qual de nós somos nós? Nós, a nossa imagem refletida, a imagem refletida que achamos que devemos ser porque os outros nos dizem para ser ou a imagem que idealizamos ter de ser porque, achamos, que os outros nos disseram que teríamos de ser? Por fim. Qual de nós somos nós? A imagem que se duplica, no espelho? Ou a imagem que nós vemos, na verdade, no espelho. Parece a mesma frase, mas não é. Voltem atrás e leiam melhor. Para a despedida: qual de nós se acarinha e espanta quando nos vemos (sublinho o vemos!) como acontece ao bebé quando descobre que ele, e a imagem dele, serão a mesma pessoa (por mais que, ao longo da sua vida, possa correr o risco de lhe dizerem que não o é)? Qual de nós, ao se ver, se espanta num “olá”?

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A Ana e a “hora de ponta”!

9 anos. Quando a conheci. Explicava-me - enquanto se fazia acompanhar de lágrimas que, timidamente, se foram apresentando - que não conseguia ler tão bem como os seus colegas. O que a deixava triste. Muito triste. Não entendia a razão de, por um lado, saber que sabia as matérias quando as ouvia da sua professora e delas falava, oralmente, mas, por outro, sentir que as palavras pareciam escorregar umas nas outras enquanto as tentava ler, como se ganhassem vida própria e, de tão confusas, mais se assemelhassem a uma qualquer hora de ponta no trânsito quando, para além do mais, está um tempo nebulado, com chuva e humidade. Quase como hoje. Estão a imaginar? A Ana falava-me das suas dificuldades como se fossem irreversíveis e como se o seu destino, e sucesso futuro, estivesse comprometido. Não estará. De todo. Assim nós saibamos escutar os sinais. E intervir. Para se esbaterem as assimetrias que se possam sentir numa sala de aula. Notem: os sinais de potenciais perturbações específicas de aprendizagem vão-se fazendo sentir, devagarinho. E, acreditem, podemos tentar escutá-los nas fases mais precoces do desenvolvimento. Urge escutar e intervir. Para que todas “as Anas” possam perceber que, mais do que um qualquer “defeito”, terão, apenas, especificidades neurobiológicas que apelam a um trabalho contínuo. E a uma intervenção adequada. “- Ana, sabias que Charles Darwin era disléxico?”. Não sabia quem era. Disse-lhe, apenas, que, entre outras coisas, era biólogo, um viajante e um cientista. Sorriu. Talvez com a ideia de que, afinal, as palavras não a deixarão “estacionada”, para sempre, em horas de ponta!

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O vírus do perfecionismo…ou da escassez!

Tanta e tantas vezes. A palavra perfecionismo nas histórias que se contam. Ou nos corpos que desfilam nas redes sociais. Mas, isto, daria para uma outra “prosa”! Fica para a próxima. Ainda ontem, em conversa, me diziam que não sabiam como controlar a ansiedade. Controlar a ansiedade. Controlo, controlo, controlo. Ou, então, o que se esconde por detrás dessa palavra, medo do descontrolo, descontrolo, descontrolo. Ou, então, indo a fundo, “quem olha por, e para, mim”? Talvez não seja o mais acertado falarmos em ansiedade, neste caso que vos conto (uma resposta natural que nos protege tantas e tantas vezes). Mas de angústia. Mas angústia de quê? De um futuro que antecipamos, com medo e medo e medo? De um passado que revisitamos, por vezes, em tristeza e mágoa? Voltando à conversa de ontem…dizia-me essa pessoa “quando tudo está a correr bem comigo, tenho ansiedade, na mesma…parece que vivo em escassez”. Parei aqui! Não importa o resto da conversa, porque, essa, ficará para nós. Escassez. Bem, se o “perfecionismo” fosse uma pessoa que se olhasse ao espelho, decerto veria, do outro lado, uma cara assustada e com medo que lhe descobrissem as suas falhas (a falha que habita em si de uma forma persistente mas que tenta maquilhar com o “tal perfecionismo”). Porque, no fundo, é esse o medo do descontrolo, neste caso em específico que vos relato: “gostarão de mim se eu falhar?”. Há um tal medo deste “se” que passamos a ter, ainda, mais medo “dele”. Todos temos uma história. E, nalgumas histórias, parece morar algum desencanto e desamor. Não que não haja, originalmente, amor, mas um desamor de cada vez que se atropelam nesse amor desencontrado. Imaginem… de cada vez que comparamos alguém de quem gostamos com outro alguém a quem atribuímos, com um olhar diferente, mais feitos (nem que à boleia de uma comparação com uma nota de um teste), ou, ainda mais um exemplo, de cada vez que atribuímos à pessoa de quem gostamos o rótulo de “pessoa exemplo” (com o risco que daí decorre para a própria e para a outra pessoa a quem se diz que se lhe tem de seguir o exemplo e, por isso, poderá sentir que nunca lhe chegará, sequer, aos calcanhares; conclusão, sofrem ambos os lados da equação!) e se, porventura, esse padrão se repetir, silenciosamente, existirá, sobretudo, escassez. Qualquer coisa como: “serei alguma vez suficiente para a pessoa que amo e que, desejo, sinta o mesmo por mim?” ou “gostarão mais de mim quando dizem que eu sou um exemplo?” ou “gostarão mais de mim mesmo quando me comparam com o exemplo que me pedem para ser, por mais que não se apercebam que o fazem?”. E começa, aí, o carrossel de exigências. Da escassez, ao mesmo tempo, que podemos sentir nesses entretantos. Caso, claro, se acumulem e prolonguem no tempo. Que fique claro: termos orgulho e vaidade no que conquistamos é essencial. E saudável. Não desistirmos dos nossos objetivos, igualmente. Termos o orgulho de quem nos gosta, também. Mas, quando, a certa altura, andamos a correr em função de um perfecionismo (por sobrevivência perante a dor que ele esconde) sobrará o desamor que poderemos sentir, uma ou outra vez, uma ou outra vez, a vida toda. E, aí, só restará a imagem que vemos no espelho. E o desamor em que nos sentimos, permanentemente. Façamos nós o que fizermos. E, claro, se não encontrarmos ninguém que nos acolha e repare. Se existir, apenas, a escassez e a ilusão da expetativa, não falaremos, apenas, de ansiedade. Mas da angústia, e dor, dum futuro que nunca deixa de ser o passado constante de todos os dias!

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QR code TAP| Tenho Amigos Preciosos

Recebi. Uma mensagem. 

De uma pessoa amiga. Dizia assim: “saudades de ajuntamentos com vocês”. Não me recordo da hora em que a recebi. E não a quero confirmar no telemóvel. É uma “chatice” a cronometragem da vida, às vezes. Mas lembro-me do meu sorriso quando a li. E da vontade de escrever…sobre os amigos. E do quão precioso é tê-los. Não sei se já repararam, mas quando estamos com crianças, por vezes, perguntamos-lhes pelos seus amigos. Porque reconhecemos, implicitamente, a importância que têm. Não sei se já repararam, mas eles acabam por ter essa mesma importância, tenhamos nós a idade que tivermos. Ter amigos deveria ser, assim, uma espécie de requisito quase obrigatório. Da mesma forma que temos um número de beneficiário e de contribuinte, por exemplo, deveríamos ter uma espécie “carimbo”, um QR code que comprovasse o reconhecimento de termos amigos na nossa vida. Os amigos são a melhor app que podemos ter. 

Os amigos. Os mais pequeninos costumam fazer quase uma hierarquia de amigos: há os melhores amigos; os amigos de casa; os amigos da escola; os amigos do desporto; os 1ºs amigos; os 2ºs amigos; os bff (vulgo, best friends forever); os amigos divertidos; os amigos a quem contam todos os seus segredos…e por adiante. No fundo, o que eles nos quererão dizer, por outras palavras, é que os amigos são tão importantes que não podem ser prescindíveis. Que os amigos são tão importantes que nos “servem” diferentes funções. Que os amigos são tão importantes quanto mais diversificados forem. Acho – não sei se concordam comigo – que os amigos não têm de ser “iguais” ao que imaginamos que somos. Ou que queremos. Quase numa versão de “almas gémeas”. São com quem nos identificamos.

Os amigos, os amigos mesmo, são todos os meus amigos que penso enquanto vos escrevo. E que vocês pensam enquanto me leem. Os amigos não têm de estar connosco, todos os dias, para ganharem o nosso selo de amizade. Os amigos não são os que concordam sempre connosco. Os amigos não são quantidade. Mas qualidade. Os amigos não são quantidade. Mas proximidade. E intimidade. Os amigos são experiências de comunhão. Os amigos não têm de estar sempre junto de nós. Fisicamente. São os que nunca estão longe. Por mais que estejam, na verdade.

Os amigos são as pessoas atentas. Que parecem ter uma espécie de radar que os fazem ligar-nos ou enviar-nos mensagem quando mais precisamos deles. Os amigos são os que se lembram (já repararam que lembrarem-se de nós significa que somos pensados por eles? Que existimos? Há a derme. Que protege o nosso corpo. E a “pele” que a amizade acrescenta à nossa vida, pelo que nos acarinha e protege). Os amigos são os que cuidam de nós. Os amigos cuidam-se. Precisam-se. E que, sem nunca nos cobrarem, fazem “birra” quando estamos um pouco mais distraídos para com eles. Os amigos são os que nos olham. E nos escutam. Os amigos são aqueles junto de quem podemos estar a conversar…em silêncio. São com quem nos podemos zangar. E que se zangam connosco. Porque (nos) somos importantes. E com quem nos encontramos para fazer a paz. 

Os amigos são tão preciosos que me sinto um bocadinho “absurda” a tentar escrever sobre eles. Os amigos são tão, mas tão, preciosos. São a diferença entre podermos viver e… sobreviver. São a diferença entre uma vida com entusiasmo e uma vida com apatia. Li, algures (não me recordo mesmo onde, desculpem-me) que aquilo que conhecemos como realidade não existirá enquanto não for pensada por nós. Que o impacto de um rio, por exemplo, só ocorre na exata medida em que o pensamos e o vivemos, a dois, a três, a quatro…. Os amigos serão assim. Existem na medida exata do valor com que existem para nós. E, nós, para eles.

Desculpem se posso ser um pouco radical, mas nós só existimos se existirmos para alguém. Seremos os outros de todos os outros. E eles os nossos de todos os nossos. Os amigos são preciosos (eu sei que já disse isto, antes, mas a repetição é propositada). Os amigos são aqueles que, estando nós há tanto tempo sem estarmos com eles, nos recebem como se nos tivéssemos despedido com um até amanhã, no dia de ontem. 

Os amigos não cobram, mesmo. Os amigos, apenas, Estão. São. Existem. Porque existimos para eles. Os amigos poderão fazer a diferença entre salvar-nos e/ou afundarmo-nos numa tristeza sem fim por não nos reconhecermos nos outros. Os amigos são a nossa casa. Se pudesse, desafiava-vos, a partir de agora, a mostrarem (com orgulho!) o QR code TAP (acabei de inventar, agora!!!! Dêem-me um “desconto”. A intenção, todavia, é boa!!!). 

QR code TAP| Tenho Amigos Preciosos. 

Não, não tem qualquer comparação com a companhia área. Ou terá? Até porque os amigos, correndo o risco de estarem em “vias de extinção” e, por vezes, serem controversos, são capazes de nos fazer viajar por mundos que nunca veríamos…sem eles. Eu tenho amigos preciosos. E tenho saudades dos ajuntamentos com eles. 

E vocês? 

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Para que servem os quadros de honra? De excelência? De valor?

Já não estávamos juntos há muito tempo. Mas parecia não ter passado assim tanto tempo. São, assim, os amigos! A conversa alongou-se para além das horas. São, assim, os amigos! Não perdemos tempo a cobrar o tempo. Mas a estarmos. Uns com os outros. Não sei como lá fomos parar. Mas fomos. 

Os quadros de mérito. Quadros de honra. de excelência. Sejam quais forem as designações que se entendam considerar. 

Há já algum tempo que queria escrever sobre isto. Mas acabava sempre por adiar. 

Pois bem, (não se vão embora, fiquem aí, por mais que se vá seguir uma parte do Despacho...). 

Por Despacho  Normativo nº102/90 publicado em Diário da República n.º 211/1990, Série I de 1990-09-12, escreve-se, entre outras alíneas, o seguinte: "A Lei de Bases do Sistema Educativo pretende garantir o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade do indivíduo e criar condições de promoção do sucesso escolar e educativo, valorizando a dimensão humana do trabalho escolar. (...)". Concordo, se me permitem!

"(...) Assim, considerando que, no âmbito da reforma educativa, compete à escola, enquanto espaço de vivência democrática e agente dinamizador de inovação social e cultural, prosseguir eficazmente aqueles objectivos, reconhecendo sistematicamente os alunos que se distinguem pelo seu valor, demonstrado na superação de dificuldades ou no serviço aos outros e pela excelência do seu trabalho Considerando, também, que alguns alunos se distinguem na escola e merecem ser reconhecidos a nível regional e até nacional; (...)".

Mais se diz..."(...) Considerando, ainda, que as actividades do sistema pedagógico-didáctico muito se enriquecem se for criado e introduzido um mecanismo adequado de promoção escolar que não só estimule o aluno para a realização do trabalho escolar, individual ou colectivo, como também lhe reconheça, valorize e premeie as aptidões e atitudes reveladas ao nível cultural, pessoal e social". 

Pelo que se determinou, por exemplo, no ponto 1: "São criados os quadros de valor e de excelência a nível da escola, a nível regional e a nível nacional para os alunos das escolas do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e para os alunos das escolas do ensino secundário, públicas, particulares ou cooperativas. [...]", salvaguardando-se a autonomia das escolas para a sua aplicação. 

Ora,

Não colocando em questão a justeza e boa intenção da lei promulgada (tenho, para mim, a confiança em quem pensa a educação e o sistema de ensino com seriedade e profissionalismo, por mais que!), não posso, ainda assim, deixar de colocar algumas reservas das suas implicações, na prática. 

Por exemplo,

Já estive com crianças/adolescentes que foram contempladas, pelo seu mérito, no Quadro de Honra da sua escola. E que viviam com o receio de, no ano seguinte, porventura, não conseguirem manter...o ranking! A sua média! 

Já estive com crianças/adolescentes que estavam perto de entrarem, finalmente, para o Quadro de Honra. Mas que viviam no receio de não o conseguirem, por mais que se tivessem esforçado. E muito! 

Quando vivemos em função da validaçãomais do que da curiosidade em aprender, acabamos por "escorregar", mais vezes do que imaginamos. Porque, no essencial, sermos inteligentes significa que pensamos com o corpo todo. E, por vezes, o nosso corpo está em "sobressalto". Demasiado preocupado em corresponder. Em procurar validação. E, quando isso acontece, a nossa disponibilidade para aprender, por mais esforço que façamos, fica reduzida. Porque pensar implica não esquecer que seremos tão mais inteligentes quanto mais sentirmos. Ainda acreditam que possamos continuar a "separar" racionalidade de sentimentos? Acham mesmo? (não sou eu que o digo, mas os Mestres).   

Já estive com crianças/adolescentes para quem o quadro de honra nem era uma questão! Estavam mais preocupadas em aprender. Em brincar. Dentro e fora das aulas. Mesmo que fossem incluídas, pelo seu mérito, nos tais Quadros de Honra. Mas, para elas, nem era assim tão importante. Que bom!

Já estive com crianças/adolescentes que se consideravam "menores" porque havia o "eles" (os "excelentes") e o "nós" (os "medianos"). 

Já estive com crianças/adolescentes que tinham resultados escolares médios/médios inferiores, mas que, em compensação, eram considerados os "bonzinhos" pelas ações que haviam desenvolvido, em termos sociais. E diziam: "Não sou muito inteligente, mas ajudo!!!". Será que é isto que pretendemos? 

Já estive com adolescentes que me disseram: "é engraçado. Passei o tempo a querer estar no Quadro de Honra e, depois que consegui, não senti tanta felicidade como imaginava. Só pensava. Será que vou conseguir, para o ano?". 

Já estive com...

E então? Perguntarão vocês. 

Se calhar já ouço alguns de vós a dizerem: "mas as crianças devem ver reconhecido o seu mérito" (verdade, mas desta forma, pergunto eu?); "o mundo é assim...a lei do mais forte"; "as pessoas devem ser recompensadas pelo seu trabalho...assim aprendem que o mundo não é fácil, lá fora"; "estão sempre a proteger-se as crianças. elas precisam de aprender o que custa a vida desde pequenas e a lutar pelo que pretendem", etc., etc. 

Que fique bem claro: acho essencial que consigamos competir para seremos melhores. Hoje e amanhã. Que nos esforcemos. Que trabalhemos. Que consigamos falhar e falhar e esforçarmo-nos e esforçarmo-nos e conseguirmos (o «e» tantas vezes é propositado!).

Mas, na verdade, o que lhes estaremos a ensinar? Que há crianças/jovens de primeira e de segunda? Que há o palco para quem consegue e os bastidores para quem lá não chega? Que seremos tão mais inteligentes quanto melhores notas tivermos? (mais uma vez: tirar bons resultados dá-nos uma sensação de prazer e realização pessoal. Não é contra isso que estamos a falar. Mas contra uma perspetiva, talvez, demasiado mecanicista deles. Da aprendizagem e desenvolvimento dos mais novos).  

Eu sei que me vou alongar, mas vou continuar a escrever (quem quiser, continue comigo!)

A escola/aprendizagem deve ser inclusiva. Não segregacionista. Deve potenciar o melhor de cada um. A  escola deve premiar o processo. A curiosidade. As perguntas (tantas crianças que me dizem que têm vergonha de colocar perguntas porque acham que "ter dúvidas" as menoriza diante dos outros!). Deve premiar as ideias. Os projetos. As competências sociais. O brincar. O explorar. A cooperação. Deve premiar o ritmo de cada um. E, respeitando que haverá diferentes "velocidades de crescimento", não deve deixar "ninguém para trás". E, eu sei, as escolas farão o seu melhor, não tenho dúvida (tenho um respeito profundo pelas escolas e professores. cresci numa escola. junto de professores. literalmente. quer dizer. bem, não é importante. Mas,

E para acabar...(para quem, ainda, tiver aguentado!!!)

Deixem-me que partilhe uma entrevista do Professor Doutor Sobrinho Simões, por quem tenho profunda admiração (será que algum dia saberá desta minha admiração?), na qual disse, quando questionado, que o melhor legado que deixava eram as suas gentes, claro, e a "escola" que havia feito com os seus alunos. A partilha de saber. A curiosidade por aprender. E ensinar. 

Disse, ainda, em entrevista à rtp, que era essencial, para sermos "gente", que tivéssemos capacidade de compromisso (uns para com os outros) e nunca nos esquecêssemos que precisamos dos outros para sermos melhores. Foi profundamente comovente, para mim, o modo simples e tão profundo das suas palavras. Disse muito mais. Mas, 
Voltando à escola. Estaremos nós a ajudar os mais novos a serem mais competitivos? Ou a colocá-los diante da iminência do "terror" da falha?  Seja para os que estão no "pódio!!!". Seja para os que olham para eles, de baixo para cima. 

P.S. temos de trabalhar para conseguirmos alcançar o que sonhamos. Verdade. Não é isso que tentamos fazer, cada um de nós, todos os dias, no nosso local de trabalho? Junto dos nossos?

Mas, digam-me se concordam: não devemos promover o que de melhor a civilização tem? Ou seja, a capacidade de podermos ser "gente" uns para com os outros!

Fim. Desculpem-me!!!

Mas a simplicidade e a síntese são tão difíceis de conquistar. Mas,
Se continuar a trabalhar. A esforçar-me. A competir. E, sobretudo, a não me esquecer de ser "gente"!  

Talvez lá chegue! 

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